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Mostrando postagens de março, 2018
Há vezes em que as cores vivas ardem nos olhos a chuva (mesmo coberta pelo vidro) esmorece o semblante até palavras de amor ganham força de berro Há vezes em que a vontade que dá é de suspender a existência ou, pelo menos, desacelerá-la até que o turbilhão flua com delicadeza É tempo de ser flor que, alheia a todo movimento (exceto ao fustigar do vento) revela sua beleza em – diria o Vinícius – lenta decomposição poética Às vezes, a percepção do intrínseco vazio ganha uma força quase de dor e afasta o efeito da imersão nas fantasias e ilusões e a palidez de uma manhã chuvosa faz emergir em nós a nostalgia que há no olhar e no suspiro de Ingrid enquanto Sam toca “As time goes by” Não cabem romances nem manifestos nem a definição de sentidos (descobertos ou inventados) nestes momentos em que a solidão revela sua solidez apenas humildes fragmentos que mais servem a quem escreve do que a quem lê carregados de uma beleza íntima, típica do que é efêmero como tudo aq
A diferença entre ver e olhar A professora perguntou à turma do pequeno José a diferença entre ver e olhar. Como os seus pais estavam viajando, a única alternativa era perguntar ao avô, cujas respostas não eram confiáveis por ele padecer do vício de ser poeta. Disse-lhe o velho:  "Ver nós fazemos com os olhos. É o que nos diferencia dos cegos. Olhar é atividade que se faz com a mente e o coração, ainda que seja através dos olhos. Olhar é abraçar com a vista aquilo que se observa, como se dali surgisse a luz que nos permite ver." Para a sua surpresa, a professora gostou muito da resposta de José e a considerou a melhor da turma. O garoto não tinha certeza se tinha entendido bem a diferença. Mas, no recreio, quando viu a menina haitiana comendo suas bolachas de água e sal em um canto do pátio, notou que a tinha visto, mas nunca a tinha olhado. Pensou em como se sentiria no lugar dela. Em um país estrangeiro, cercada de muitas pessoas que tratam mal quem é