Há vezes
em que
as cores vivas ardem nos olhos
a chuva (mesmo coberta pelo vidro) esmorece o semblante
até palavras de amor ganham força de berro

Há vezes
em que
a vontade que dá é de suspender a existência
ou, pelo menos, desacelerá-la
até que o turbilhão flua com delicadeza

É tempo de ser flor
que, alheia a todo movimento (exceto ao fustigar do vento)
revela sua beleza em – diria o Vinícius – lenta decomposição poética

Às vezes,
a percepção do intrínseco vazio
ganha uma força quase de dor
e afasta o efeito da imersão nas fantasias e ilusões

e a palidez de uma manhã chuvosa
faz emergir em nós a nostalgia que há no olhar e no suspiro de Ingrid
enquanto Sam toca “As time goes by”

Não cabem romances nem manifestos
nem a definição de sentidos (descobertos ou inventados)
nestes momentos em que a solidão revela sua solidez

apenas humildes fragmentos
que mais servem a quem escreve do que a quem lê
carregados de uma beleza íntima, típica do que é efêmero
como tudo aquilo que é humano.
(Felipe Rocha, 14 de março de 2018)

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