Dois pães massa grossa
Começou a pandemia. Pânico coletivo, incertezas e desgoverno incompetente. Me veio crise de ansiedade e solidão, já que sem namorada, longe de casa porque graduando e estagiário que não teve folga, só teletrabalho. Moro em casa alugada, barata porque no centro da cidade, sem condomínio. Melhor momento do dia é o “Bom dia, Thiago!”, da dona Margarida, sempre que vou comprar o pão quentinho na padaria que também é nossa vizinha. Desde o começo da pandemia não vejo sua filha, companheira da fila do pão, com quem já tentei infrutífera paquera, apesar de mais velha, e que sempre levava o dela. Pelo estranhamento da ausência, perguntei à Dona Margarida por onde andava sua filha. Descobri, então, que, por ser enfermeira intensivista, andava longe da casa da mãe. Ainda não havia sequer vacina na época. Sem pensar muito, dei a ela o saco de pão que havia comprado e, antes de dar tempo dela me devolver, voltei à padaria dizendo que agora ia comprar o meu. Passou a ser nosso rito ...