Ela
A palavra "ela" nunca teve um significado tão bonito e delicado. É assim que denomino a aprendiz de bailarina que me enfeitiça enquanto ensaia (ou que ensaia enquanto me enfeitiça) porque não tive o privilégio de saber seu nome. Na falta do prenome, me contento com o pronome. Enquanto trato de minhas dores de soldado ferido, no lado A do salão, Ela dança, no lado B, graciosa, com suas colegas repetindo os mesmos movimentos. Mas, pro meu olhar, é como se de um solo se tratasse. Como se de um Sol - que ofusca o brilho das demais estrelas - se tratasse O holofote que meu desejo, suspirando, põe sobre ela faz das outras sombras cujos movimentos são meros satélites da que magnetiza o meu humilde olhar. Que, de tão inebriado e apaixonado, esquece que há realidades além da bela tela que vê. E que esquece, ainda que por breve instante, que há movimento e palavras e vida fora daquele mo(vi)mento. E só me percebo novamente enquanto ser autônomo, feito de mim, quando o olhar dela