Ela

A palavra "ela" nunca teve um significado tão bonito e delicado. 
É assim que denomino a aprendiz de bailarina que me enfeitiça enquanto ensaia (ou que ensaia enquanto me enfeitiça) porque não tive o privilégio de saber seu nome. 
Na falta do prenome, me contento com o pronome. 
Enquanto trato de minhas dores de soldado ferido, no lado A do salão,
Ela dança, no lado B, graciosa, com suas colegas repetindo os mesmos movimentos. 
Mas, pro meu olhar, é como se de um solo se tratasse.
Como se de um Sol - que ofusca o brilho das demais estrelas - se tratasse
O holofote que meu desejo, suspirando, põe sobre ela faz das outras sombras cujos movimentos são meros satélites da que magnetiza o meu humilde olhar. 
Que, de tão inebriado e apaixonado, esquece que há realidades além da bela tela que vê. 
E que esquece, ainda que por breve instante, que há movimento e palavras e vida fora daquele mo(vi)mento. 
E só me percebo novamente enquanto ser autônomo, feito de mim, quando o olhar dela repousa no meu e ela sorri do meu patente deslumbramento.
Respondo com um aceno de quem reencontra quem tanto procurava e com um sorriso de quem daria a vida por aquele momento
E mais nada. 
(Felipe Rocha, 12 de julho de 2021)

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