O menino jabuti
Perguntaram ao menino que bicho queria ser se não fosse homem. Respondeu sem titubeio: queria ser jabuti. Notou desapontamento com sua resposta. Esperavam leão, onça, gorila ou qualquer outro animal valente. Pro menino, porém, pouco valor tinha a valentia. Apetecia-lhe mais a ideia de carregar sempre consigo sua casa e abrigo, a longevidade e a forma vagarosa de passear pelo mundo. Como podia querer ser tão lento? Questionavam os demais. Não entendiam, contudo, que, pro olhar sensível e atento do garoto, era preciso ter calma e tempo para contemplar a beleza das cores, das flores e dos amores e para absorver tudo o que vinha desse contato. Ele não estranhava a incompreensão dos outros por neles notar um incessante movimento e um constante barulho que os impediam de dedicar qualquer tempo a viver passivamente aquilo que havia para além de si. Mesmo um tio, que por ele nutria suposto afeto, o chamava de “lerdo” por não compreender que qualquer melodia, qualquer partitura