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Mostrando postagens de outubro, 2022

Canção noturna

Depois de tanto riso solto   e espairecimento de um difícil hoje E da imersão boêmia provocada pelas canções que escolheste Um círculo de vinho tinto que escorre da taça se forma na folha do livro em que está o teu poema preferido, Quando repousas ela pra me beijar a boca Línguas úmidas, mão, cabelo e nuca Corpos que se encontram Delicioso atrito do meu peito com teu seio Sem qualquer pressa ou urgência Degustamos pacientemente um momento   talvez único Como pode caber tanto desejo em uma madrugada? Teu sorriso, tuas tatuagens Tua voz ou tua perspicácia O que me fez cair no encanto que te faz centro? A lua já subiu alta, mas as estrelas e a brisa noturna fazem perfeita a paisagem desta varanda Sob o teu corpo, mãos sob a renda que estão sob o teu vestido Te percorro e em ti adentro após gentil convite Pulsão de vida que lateja   e me arrebata Enquanto envolto em teu perfume e em teu sabor inebriante Sinto que já valeria a vida só aquele instante.

Carta para meus filhos sobre as esperanças de outubro

Queridos Luísa e Marcos, outubro chegou nos trazendo esperança. Uma mudança importante no cenário político e social tenebroso que estamos vivendo se aproxima de nós e se torna cada vez mais palpável,  fazendo pulsar esse sentimento teimoso de esperança mesmo em quem já está calejado pelos golpes da vida e reluta em se entregar ao otimismo.  Não há como não pensar em vocês enquanto reflito sobre isso porque eu desejo que vocês vivam e cresçam em um mundo muito melhor do que ele seria se o grupo que está no poder permanecesse. Acompanhar vocês crescendo e se desenvolvendo também é algo que, em si, já me traz otimismo. Este mês Marcos aprendeu a virar de bruços sozinho, depois de empreender muito esforço nas primeiras tentativas até finalmente conseguir. Lulu está cada vez mais falante e sorridente e querendo ficar de pé quando seguramos as mãozinhas dela. E os dois já têm muito mais equilíbrio quando ficam sentados. São pequenas conquistas que podem parecer insignificantes pra quem vê de

Metalinguagem

  O que não vivo inspira muito do que desejo. O que desejo inspira muito do que eu escrevo. Por isso muito do que eu escrevo é do que não vivo. Para sentir algum lampejo do que não alcanço, deixo de olhar o mundo real à frente de mim para imergir nas fantasias que minha imaginação cria e colocá-las no papel. No entanto, por vezes um preciosismo requer um retorno ao real para que as estórias adquiram verossimilhança. Em raros casos, ao fazer isso, percebo que o almejado está ao alcance do toque. Como se me tornasse o personagem que acabei de criar e apresentasse a sua narrativa não com palavras, mas com movimentos. Hoje isso aconteceu. Ao parar na praia para buscar inspiração pra um texto inacabado - sobre um sujeito que decide mergulhar no mar em um pôr-do-Sol de terça-feira, depois de perceber, em um engarrafamento voltando do trabalho, que o mundo ao seu redor paralisara e que apenas o mar mantinha o seu perpétuo movimento -, eu decidi sentir, ainda que brevemente, aind