Lucidez
Luísa não queria dormir. À noite não dava trabalho. Mas, pras sonecas do dia, ela se recusava a adormecer, mesmo estando com sono Seus olhos vívidos e brilhantes, que ela insistia em manter abertos, pareciam dizer que havia muitas cores, paisagens e movimentos que mereciam sua atenção. Foi como quando, aos 14, comecei a usar óculos e passei uma tarde inteira com o disc-man no ouvido e passeando pela rua do meu condominio observando o céu, as casas, as flores e tudo o mais que deslumbrava o meu olhar de nitidez recentemente recuperada. O olhar de Luísa me convidou a resgatar essa curiosidade contemplativa sobre o mundo e me pus a tentar vê-lo com a mesma avidez com que ela o enxergava. Deitado no tapete em que ela brincava, costas no chão e olhar para o céu, vi, no espaço entre as telhas e as flores lilases que balançavam sob o agito do vento, as nuvens brancas que passeavam devagar pelo azul claro do céu. Em um nível mais próximo de mim, vi e ouvi os passarinhos que flertavam com as