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Mostrando postagens de setembro, 2019
Futuros amantes* "Não se afobe, não, que nada é pra já O amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio Num fundo de armário Na posta-restante, milênios Milênios, no ar E quem sabe, então o Rio será Alguma cidade submersa Os escafandristas virão Explorar sua casa Seu quarto, suas coisas Sua alma, desvãos Sábios em vão entarão decifrar O eco de antigas palavras Fragmentos de cartas, poemas Mentiras, retratos Vestígios de estranha civilização Não se afobe, não, que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você Não se afobe, não, que nada é pra já Amores serão sempre amáveis Futuros amantes, quiçá Se amarão sem saber Com o amor que eu um dia Deixei pra você" (Chico Buarque) Só mesmo aqui no Rio de Janeiro podemos ser nós mesmos. Esse teu doutorado em local tão distante da nossa terra natal veio bem a calhar. Não era para ser assim. Já estamos no terceiro milênio e nossos parentes e vizinhos a...
Ainda há Acordou cedo hoje. Antes do galo, ou talvez com ele. Mas o meu espanto não foi com esse despertar prematuro. Foi vê-la impostando sua voz retumbante após longos anos de cantares tímidos que mais se aproximavam do silêncio e do assobio. Vestia o seu xale vermelho, que eu achava que ela já não tinha, e cantava um fado triste e pungente como todos os outros que outrora compunham o seu cotidiano lisboeta. Se não soubesse que o juízo de minha mãe andava melhor que o meu, apesar de mais de oitenta, pensaria que se tratava do delírio senil de quem pensava ainda estar na mocidade. Disso não se tratava, todavia.   Tive mais certeza quando vi que meu pai a acompanhava no violão, como fazia nas casas de fado dos dias de antigamente. Talvez fosse saudade da terra natal, pois que já faziam dois anos que eles passaram a viver comigo no Brasil. Talvez tenha sido um sonho que cutucara suas memórias de vida noturna. Seja qual fosse o motivo do sara...