A manhã
Abre os olhos e sente a manhã cinza lá fora
Veste o edredon como fosse uma capa
Enche a caneca de café e põe muito leite em pó
Aquecido por dentro, se despe da manta
Sai
Vê que o frio não é muito
Olha o sol tímido entre as nuvens cinzentas
e percebe que não faz ideia de que horas são
não sabe por quanto tempo dormiu
nem fome sente
Sabe só o que há à sua frente
Um vasto jardim de grama verde e flores coloridas
que ainda carregam os orvalhos precipitados da madrugada
úmida
O cheiro da grama molhada traz reminiscências boas da
infância
Mas ele não fica ali no passado
Não sai de onde está
Senta confortavelmente na grande almofada da varanda e para
Só se movimentam os seus olhos
Ávidos por apreender toda a boniteza daquele grande cenário
Estático, percebe que uma borboleta colorida pousa em seu
ombro
E que um grande jabuti de aparência ancestral está à sua
frente
Sente-se parte da paisagem
prescinde de
movimento
Quando ouve os bem-ti-vis, nota que flutua
Aproveita o milagre para ir até o lago
É opaco, mas ele não teme perigos ou surpresas, nem o frio
Em inédita capacidade de movimentação vertical
Coloca-se aos poucos dentro d’água
Nota que está morna, apesar do ar frio
Com o corpo totalmente imerso
Volta a pôr-se em posição horizontal
Com os braços aberto, deita-se sobre a água
Boiando enquanto contempla o céu
Ciente da consistência etérea e efêmera das nuvens
Conclui que, assim como as cores são necessárias à vida,
Também é importante que o céu não possua horizonte que o
limite
Essa epifania faz seu peito pulsar e ele nota que é hora do
mergulho
Enche o peito de ar, fecha os olhos e desce ao fundo do lago
Finalmente acorda.
(Felipe Rocha, 3 de junho de 2018)
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