Lágrimas de homem

Gosto de ver escorrerem lágrimas de homem
Seja em uma tela de TV ou cinema
Em um rosto diante de mim
Ou mesmo no reflexo do espelho

Não é que as ache engraçadas
E tampouco se trata de sado ou masoquismo

É que cada vez que elas escorrem
Sinto que, mais um pouco, se dissolve
Esse modelo tóxico de masculinidade
Que reprime afetos, incita violência
E que faz com que homens como eu tenham dificuldade de as derramar
Ainda que sofram
Ainda que amem
Ou se emocionem

Quem dera fosse essa represa apenas dos olhos
Mas não
Interditam-se os braços pros abraços
Os lábios pros te amos
O peito pros suspiros emocionados

Gosto de ver lágrimas de homem
Que expressam a catarse de uma alma cansada de tanta pressão, repressão e opressão
O pranto de quem sabe a tolice que é vê-lo como um vacilo da heterossexualidade do sujeito

Muitos de nós ainda se envergonham se os olhos marejam
Outros tantos até se desculpam se não conseguem conter o nó na garganta

A estes, eu diria que não se preocupassem
E lhes agradeceria por aquele raro momento de incontinência

Porque poucas as coisas são tão poéticas
Quanto as lágrimas dos homens.

(Felipe Rocha, 18 de julho de 2018)


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