O cometa mágico
Naquela noite, o céu iluminou-se inteiro
Não era nem a lua e nem as estrelas que muito brilhavam
O que encandeava no céu noturno era um cometa bastante grande
Cuja cor variava a depender do humor de quem o visse
Para uns amarelo, para outros azul, até cor de rosa disseram que viram
Mas, nem de longe, foi esse o mais estranho efeito de tal fenômeno
Além de alumiar o céu, também encantou as vidas e os seus lugares
Casais de meia-idade que só olhavam no outro os sinais de envelhecimento
Dançaram a dois e, com vigor, namoraram entre os lençóis
Velhos ranzinzas, que nutriam o tempo que lhes restava apenas com memórias do passado
Vieram ao presente e até banharam de mar, lembrando-se da leveza de seus corpos
Vieram ao presente e até banharam de mar, lembrando-se da leveza de seus corpos
Em uma lagoa, cuja beleza era oculta à noite, surgiram lanternas chinesas, sustentadas pelo fogo, que flutuavam sobre as águas e sobre o ar, como balões vermelhos que ganham os céus
Nas ruas antigas, feitas de pedra, era um brilho prateado que dali provinha
Até as crianças perderam o sono e o medo do escuro e saíram a brincar pelas ruas
Em cirandas embaladas por acordeões franceses, bandolins e violinos entoados por músicos que subitamente brotavam nas esquinas
Houve quem dissesse que viu até mesmo bailarinas desfilando pelos céus
Como delicados cisnes que enfeitam os lagos europeus
Como delicados cisnes que enfeitam os lagos europeus
Casais de jovens apaixonados entraram na roda gigante, com pipocas amanteigadas
Para de lá de cima apreciar a beleza daquele pitoresco cometa
Para de lá de cima apreciar a beleza daquele pitoresco cometa
Naquela noite, ninguém teve cansaço ou tristeza
Nem vontade de ausentar-se da vida ou do mundo
Nem vontade de ausentar-se da vida ou do mundo
Era uma noite que ninguém queria que tivesse fim
E que, no esplendor de sua magia, não permitiu sequer registro
Fotográfico, cinematográfico ou de qualquer outra natureza
E que, no esplendor de sua magia, não permitiu sequer registro
Fotográfico, cinematográfico ou de qualquer outra natureza
Quando, finalmente, as pessoas adormeceram
Acordaram no dia seguinte sem qualquer sinal de que a noite anterior efetivamente acontecera
Acordaram no dia seguinte sem qualquer sinal de que a noite anterior efetivamente acontecera
O mundo parecia exatamente igual ao que havia antes de tudo aquilo
O que se passara ficou mesmo apenas nas memórias das pessoas e nos sorrisos que elas provocavam, havendo até quem achasse que não passou de um grande sonho coletivo
Que arrebatou a todos, por inexplicáveis motivos
Até os cientistas acabaram desistindo de explicar o fenômeno, por ausência de qualquer dado empírico comprovável
Até os cientistas acabaram desistindo de explicar o fenômeno, por ausência de qualquer dado empírico comprovável
Tratou-se, na verdade, e apenas e tão somente, de uma brincadeira de Deus
Que, fatigado com a ausência de entusiasmo, de alegria e de brilho nos olhos da humanidade,
Resolveu, com uma simples pincelada em forma de cometa, lembrar a todos que os milagres existem e que a magia pode se traduzir em coisas possíveis
Bastando apenas que tenhamos os olhos e o coração abertos para tanto encanto.
(Felipe Rocha, 21 de novembro de 2018)
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