Em perfeições

Por quanto tempo irá durar a minha beleza? Tu insistes em me perguntar.
Como se o viço de tua pele desvanecesse qual a areia de uma ampulheta.
Não é por excesso de vaidade, nem por mermo narcisismo, disso tenho certeza. 
É fruto da insegurança que precede o momento em que nos tornamos par e que deriva da baixa auto-estima que – esta sim – eu não sei de onde vem.
Dizer que, para mim, tu sempre serás linda é um clichê que, por mais honesto que seja – por vir de um homem apaixonado – não lhe é suficiente.

Compreendo, até certo ponto, ante o contexto de amores líquidos e de vitrines virtuais que expõem falsa e superficialmente as relações em seus momentos e sentimentos, traduzindo o “mesmo” como “medíocre”.

Por isso aproveito este enquanto do seu descanso, para mirar-lhe as curvas que já tão bem conheço, com as linhas e ondas que lhe marcam, e tentar descrevê-la, enquanto escrevo, como a micropaisagem que de fato é.

Se não a chamo de perfeita, não é por excesso de defeitos. Só não considero o termo adequado para descrição da beleza.

Assim como polígonos não formam montanhas, nem sequer as dunas de areia dos desertos, é assim que percebo as variadas texturas pelas quais as minhas mãos passeiam, quando tateio teu corpo.

Não é num punhado de grãos que areia se fez paisagem e nem nas irregularidades das rochas que a montanha se fez um acalento ao olhar.

É na vista do todo que se vê o que há de belo.
E por ter a sorte de ter ver inteira - desvelando tua identidade na medida em que permitimos crescer nossa intimidade – é que sei que não é só amor que não encontrará fim, mesmo que sejam longos os caminhos.

Meu olhar sempre desejará tua imagem e meu corpo o contato com o teu.
Não importa o tempo que durar minha vida
Não importa o quão longe eu estou do adeus.
(Felipe Rocha, 18 de julho de 2019)

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