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Mostrando postagens de agosto, 2020

Um dos melhores dias dos pais de todos

                       I Era o segundo sábado de agosto quando fui dormir. No dia seguinte, eu ia almoçar na casa dos meus pais, como sempre fazia no dia dos pais. Mas a manhã seguinte foi bem diferente da que eu havia planejado. Acordei no quarto que dividia com meus irmãos na casa de dois andares onde passei minha infância. Reparei em meu próprio corpo e notei que tinha voltado a ser criança, assim como meus irmãos, que dormiam nas camas ao lado da minha. Minha reação instintiva foi procurar meu celular para ver a data. Mas, quando me lembrei que ele ainda não existia quando eu era criança, procurei saber em que dia estava através de um relógio digital de pulso que eu tinha na época e que dizia que estávamos em 8 de agosto de 1993. A princípio, um leve desespero me fez sentir um frio na barriga. No entanto, seja por já ter tido sonhos que se confundiam com a realidade ou por ter assistido muitos filmes de ficção científica, o temor logo cedeu lugar à vontade de aproveitar basta

Obrigado Caetano

  Estava no carro, sinal vermelho. Ouvi "Tigresa" do Caetano vinda da janela do carro vizinho. Por estar aberta, pude ouvir a voz de Iara da motorista, que vestia preto, um colar colorido e um rosto belo como pintura envolto por cachos rebeldes. O coração pulsou forte diante de tanta coisa bonita. Sentia saudade de um chamego de mulher, de uma mina tigresa e boêmia e queria que fosse ela comigo. Caso buzinasse, estragaria o momento, pois seria confundido com um macho tarado qualquer. Puxei caneta e papel do porta-luvas e escrevi rapidinho: "Me encantei por teu canto e teus cachos. Me liga, pelo amor de Deus!". O sinal abriu, ela seguiu um rumo diverso do meu. Mas, à noite, me ligou. Depois de nos entrelaçarmos ao som de "Elegia", ela adormeceu com seus cachos em meu peito e com os seios em meu ventre. Ao tempo em que penso: "já te amo", agradeço Caetano.

Às seis

  Me convenci de que o melhor momento de abordar é às seis da manhã. Anseio por abrir a janela e sentir a lufada de vento da primeira manhã, que é fria e amena mesmo nestas terras tropicais. Respiro fundo este ar que evoca tão boas reminiscências. Ao inspirar, me inspiro, ao expirar, suspiro. Melhor que fazer uma pausa em um dia atribulado, é começá-lo em marcha lenta, em respeito ao ritmo suave que o corpo e a mente nos pedem no início do tempo e que bem combina com o canto doce dos passarinhos que primeiro madrugam. Se escrevo sobre, é porque sinto que, ao (d)escrever, capturo a beleza do momento como se o fotografasse e torno possível resgatar essa ternura matutino com mais nitidez, em momento futuro. Viver é bom. (Felipe Rocha, 7 de agosto de 2020)