Pelas persianas
Acho que o melhor da vida é quando acordamos com a impressão de ainda estar sonhando. Assim me senti quando despertei entre os lençóis e as pernas da artista que é um ser grande e belo demais para ser limitado por um nome. São difíceis e raros os momentos em que os ponteiros dos relógios se dissolvem e a ideia abstrata de tempo é percebida apenas pelo surgimento da fome e do desejo, após o intervalo ditado pelos momentos de saciedade. Não só o seu corpo curvilíneo, mas também o eco de sua voz e de suas ideias em mim, mesmo em momento de silêncio e repouso, me faziam contemplá-la como quem está diante de um lago de águas cálidas. Que sabe que, caso se atreva a nele entrar, dificilmente voltará a dele emergir. Olhando os raios laranjas e dourados do poente que transpassavam as persianas da janela, sorri sozinho ao perceber que era verdade o que ela dissera sobre ser linda a golden hour em seu apartamento. “Faz um café pra gente”. Ela pediu num tom morno e com um carinho em minh