A valsa real
Sozinho no coreto da praça, o às apreciava o florido jardim do reino.
Estava tranquilo e sereno, mas mesmo aquela colorida beleza não afastara a seriedade do seu semblante.
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Eis que aparece em sua frente o coringa. Mestre das ilusões e dos disfarces.
Sua presença trouxera, ainda, uma festiva canção, embora não se visse banda que a tocasse.
O às, ainda sério, disse ao palhaço, eu sei que isto não é real. Que não passa de ilusão!
O coringa retrucou: Tolo, é real tudo que a gente quer e que conseguimos acreditar que seja!
Pois, nada há de objetivo e é muito tênue esta fronteira!
Um inédito sorriso formou-se no rosto do às, que começou a dançar no mesmo (com)passo que o coringa.
Quem os via de longe estranhou.
O valete o chamou de ridículo pois não conseguia ouvir a música que ele dançava.
A rainha fez troça porque não enxergava o par daquela excêntrica valsa.
O rei, que, por ser mais velho, era mais frágil e, porém, mais sábio, logo percebeu o que sucedera: o coringa fizera um às mais louco, porém alegre, mais solto e também mais leve.
E por saber que, o fim, mais importa o que se sente que o que se faz e tem, deixou que a valsa fluísse até que a noite chegasse e no reino já não houvesse ninguém.
(Felipe Rocha, 3 de agosto de 2021)
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