No caminho certo
Estava com meu bebê no colo, depois do almoço, e recebi uma feliz notícia pelo celular: o dinheiro do precatório de uma cliente de 101 anos que estava prestes a ser devolvido para o Tesouro Nacional em virtude da burocracia do banco finalmente caíra na conta dela.
Eu me emocionei com a notícia. Não só por saber que provavelmente a cliente não receberia o crédito em vida se ele tivesse retornado ao Tesouro Nacional, mas porque foi um daqueles casos em que a sensibilização do advogado, do juiz e dos servidores da Justiça Federal fez toda a diferença.
Não fossem as várias conversas que tive com o magistrado, com o assessor e com a secretaria da vara; não fosse o juiz ter antecipado o atendimento que eu havia agendado para poder me atender antes de sair de férias e ter despachado mesmo estando, em tese, de férias, nós não teríamos conseguido impedir que o crédito retornasse ao Tesouro Nacional.
Em uma semana de muita dor de cabeça causada por estelionatários que estão se passando por mim para dar golpes em clientes do escritório, em que minha reputação construída ao longo de 15 anos de advocacia têm sido abalada por criminosos que criaram até uma mensagem automática que menciona o meu nome nos telefonemas, eu recebi essa notícia que me fez lembrar por que escolhi advogar do lado mais fraco da balança.
O sentimento se tornou maior depois que a filha da cliente pediu o número da minha conta para transferir meus honorários e eu expliquei que ela não precisaria me pagar nada porque nós já tínhamos recebido nossos honorários no processo.
Recebi um áudio dela (que tinha tentado me ligar mas não conseguira porque eu estava com meu filho no colo e ele estava dormindo) me agradecendo, dizendo o quanto aquele dinheiro ia ajudar a mãe a saldar dívidas e dizendo que tinha se tornado minha fã e que torcia muito para que a minha honestidade e dedicação fossem recompensados com muita saúde e bênçãos para mim e para minha família, pois eu poderia ter recebido o dinheiro que ela nunca ia ficar sabendo que não precisava ter pago.
Meus olhos molharam porque pensei imediatamente nos meus pais. Foi com eles que aprendi que o que traz "nobreza" e "grandeza" à vida de alguém não é a quantidade de dinheiro que a pessoa acumula ou de reconhecimento público que ela adquire, mas sim valores importantes como a honestidade e pequenos gestos diários que podem até não mudar o mundo em uma grande escala, mas tocam a vida das pessoas que convivem conosco de modo bastante significativo.
Minha garganta embargou porque, com meu filho nos braços e com minha filha e esposa perto de mim, pensei que, assim como antes eu tentava ser um homem de quem meus pais se orgulhassem, hoje, eu desejo ser um homem de quem meus filhos se orgulharão no futuro. E esse episódio singelo de hoje à tarde me fez concluir: eu estou no caminho certo.
( Felipe José Nunes Rocha, 2 de julho de 2022)
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