Carta pros meus filhos sobre os bons ventos de setembro
Amados filhos
Marcos e Luísa, o mês de setembro nos trouxe ventos muito agradáveis. As chuvas
são raras neste mês, mas, apesar disso, o tempo está bem agradável, com ventos
que amenizam o calor típico da nossa cidade. Isso nos tem permitido passar
muitos bons momentos com vocês nas redes ou nas cadeiras de balanço da varanda da
casa da vovó Jesus ou mesmo andando pelo jardim florido.
Também em
sentido metafórico posso dizer que setembro nos trouxe bons ventos. A primeira
gripe de vocês melhorou logo no início do mês, o vovô Juarez voltou pra casa
depois de 40 dias com a prima Lara, o tio Juba e a tia Anaceli, eu voltei a
cuidar mais do corpo, fazendo bicicleta ergométrica e ginástica e a impressão
que tenho é que eu, a mamãe e todo mundo que nos ajuda a cuidar de vocês temos
nos sentido cada vez mais confiantes e seguros e temos conseguido levar com
cada vez mais leveza essa tarefa de garantir que vocês cresçam e se desenvolvam
com saúde.
Mas, mais do
que contextualizar o cenário deste passado que talvez seja longínquo quando
vocês lerem esta carta, eu quero escrever coisas que eu penso e sinto desde que
vocês nasceram e que ainda não tive oportunidade de registrar.
Vocês têm me ensinado a face mais bonita do
amor. Logo que vocês nasceram, confesso que não vi nenhuma semelhança física
entre vocês e eu (com exceção apenas da cor do cabelo de Lulu e do fato dela
ter nascido cabeludinha como eu), mas de modo algum aquilo me trouxe qualquer
incômodo. Olhando vocês dois na salinha pra onde nós fomos depois que vocês
nasceram, eu só conseguia pensar no quanto vocês eram perfeitos e lindos exatamente
do jeito que vocês eram/são. Eu não precisei ver qualquer semelhança física
entre nós pra sentir um fortalecimento imediato e gigantesco desse amor que começou
a surgir de forma mais concreta desde que ouvi o coração de vocês batendo na
primeira ultrassom.
Tampouco o fato
de saber que ainda levariam alguns meses até vocês serem capazes de “interagir”
conosco me incomodou ou prejudicou o amor tão imenso que eu já sentia por
vocês.
Esse ato de
amar sem egoísmo, narcisismo e sem precisar sequer de uma “correspondência”
carrega uma beleza tão grande que faz a gente sentir que a vida real não deve
nada pros romances, filmes e demais obras de ficção que costumamos ler ou
assistir pra tornar o nosso cotidiano mais lúdico.
Vocês também
têm feito eu enxergar o futuro como potência e com uma ansiedade boa de quem
aguarda a ocorrência de um acontecimento especial. Antes de vocês nascerem, eu
pensava na minha vida dali a um, cinco ou dez anos, sem um entusiasmo muito
grande, talvez por sentir que já tinha atingido um nível razoável de
estabilidade na vida pessoal e profissional.
Hoje, quando
penso no futuro, mesmo em um futuro que não vai demorar a acontecer, meu
coração se enche de alegria e empolgação, porque eu fico pensando, por exemplo,
em como vocês serão quando completarem 6 meses e começarem a introdução alimentar,
em como vai ser o nosso primeiro natal, como será quando vocês derem os
primeiros passos e falarem as primeiras palavras, em como Marquinhos vai ser
quando tiver mais cabelo e Lulu tiver o cabelo mais compridinho... Como vai ser
quando a gente puder dormir os quatro na mesma cama, ou assistir filmes juntos,
ou conversar... Enfim, acho que já deu pra entender.
Muita gente da minha
geração cresceu com uma ideia de que a “grandeza” do ser e o sentimento de
realização e de felicidade passavam necessariamente por grandes e notórias
conquistas, principalmente no campo profissional, e de que uma vida mais
voltada para o âmbito doméstico e familiar e para o ato de cuidar das pessoas
que amamos carregaria um quê de mediocridade que nós deveríamos evitar.
Vocês me fizeram
enxergar e entender o quanto esse pensamento é equivocado. Tanto por criar
expectativas altas demais nas pessoas, que vão fazer com que prevaleça um
sentimento de frustração, quanto por ignorar a enorme importância que há no afeto e no cuidado que dedicamos aos nossos e a beleza simples e
maravilhosa que vem de deitar com o
filho dormindo no seu peito, de receber um sorriso da filha que consegue cada
vez mais enxergar o mundo e todas as suas cores e várias outras experiências
que inundam o nosso coração com esse calor morno e revigorante que vem do amor.
Ainda teria
muito mais a dizer pra vocês, mas não quero estender mais esse texto pra não entediá-los.
Então, por enquanto, concluo apenas
dizendo: Muito obrigado por me ensinarem tanto!
Eu amo vocês.
(Felipe Rochha,
17 de setembro de 2022)
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